24.8.09

nós por cá, achamos graça

De acordo com o Instituto dos Registos e Notariado, uma criança pode ser registada em Portugal com o belíssimo nome de Melquisedeque, Mimom, Mirtila (como a esposa do Mirtilo...), Naraiana ou Ocridalina.

Também se pode parir um Omar, mas não uma Omara, assim como uma Roquelina, mas não um Roquelino. Um Requerino sim, mas um Revelino não, e muito menos uma Susane.

Uma Rosanete pode, mas uma Rosângela já não é bem visto. Salazar pode, Estaline não. E um Samora Machel nem pensar, mas um Dagoberto Tito é na boa.

Um Orósio, fixe. Um Parcidio passa, embora seja preferível Pracídio, um Pépio passa na boa e até um Pitágoras. Mesmo um Priteche (para rapaz, aparentemente) não levanta suspeitas. Já uma Ziriana, uma Dacilde ou um Doriano nem pensar. Mas uma Doriana já pode ser.

E mais aqui.

18.8.09

mais da série Tobias in the Jungle


3.8.09

estava capaz de lhe dar um beijinho

Por isso é que isto está como está,
por João Miguel Tavares, na edição de fim-de-semana do i


Portugal está cheio de gajos porreiros. Mas o nacional-porreirismo não é mais do que uma declinação açucarada da velha filhadaputice
.

Eu não sou um tipo certinho, ok? Detesto gente legalista, que acha que as coisas são assim porque sempre foram assim e porque está escrito que são assim - mesmo que o "assim" desafie todas as leis do bom senso. Aliás, odeio de tal forma a burocracia mais burra que ainda há pouco tempo me lancei num raide nocturno com o meu pai para arrancar da calçada um sinal de estacionamento para deficientes. O deficiente e o respectivo carro tinham mudado de casa há meio ano, a câmara fora avisada, toda a gente (polícia e EMEL incluídos) sabia que ele já não morava ali, mas os carros que ocupavam o lugar do deficiente fantasma continuavam a ser multados porque o sinal estava lá e a lei é a lei.
.
Remover um sinal à biqueirada, fugir com ele de carro e largar o corpo numas traseiras abandonadas foi uma experiência inédita e, atrevo-me a dizer, enriquecedora. Acabaram-se as multas. Problema resolvido.Eu não sou mesmo um tipo certinho. E o simples facto de ser olhado como um tipo certinho, muito ordeiro e escrupuloso, é a prova definitiva da natureza selvática da pátria no que ao cumprimento da lei diz respeito. Não necessariamente da Lei, daquela que vem aborrecidamente inscrita em "Diário da República", mas de noções básicas de civilidade, uma palavra bonita mas cuja falta de uso é, também ela, sintomática.
.
Na Finlândia, eu seria certamente um bárbaro, um selvagem a necessitar de correctivo. No Portugal latino, sou um menino de coro, um exemplo de honestidade e candura. Será por ter maus pensamentos quando um jovem empresário me diz "com factura é mais 20%"? Será por considerar que fugir aos impostos é moralmente equivalente a assaltar a loja da esquina? Será por considerar que quem não se empenha naquilo que faz merece ser posto na rua, mesmo que cumpra o horário das nove às cinco?
.
Por cada tipo que gosta de se armar em chico-esperto há nove que são obrigados a fazer figura de chicos-parvos. Pessoalmente, dispenso ambos os papéis. A senhora que num restaurante self-service abanca numa mesa para guardar lugar enquanto os outros ficam de pé com a bandeja da comida; o idoso intempestivo que fuça carruagem de metro adentro antes que alguém consiga sair; o casalinho que nas escadas rolantes entope a passagem enquanto exercita as glândulas salivares; o bacano que tem por hábito despejar o carro em segunda fila; toda esta gente acha que o mundo orbita em volta do seu umbigo. E é isso que eu odeio. Não a quebra da lei ou o incumprimento da regra. Mas o egoísmo. O desrespeito pelos outros. E, em última análise, a incapacidade de gostar de quem vive ao nosso lado.